No século dezenove surgiu nos Estados Unidos da América do Norte
um movimento que marcou a data da volta de Jesus para 22 de outubro de 1844, o
qual foi encabeçado por um fazendeiro americano. Seu estudo intensificou-se na
profecia de Daniel 8:14. Empregando Ezequiel 4:6 e 7 e outros textos, ele
cometeu um grave erro ao concluir que as 2300 tardes e manhãs escritas pelo
profeta Daniel eram 2300 anos, os quais, segundo ele abrangiam o período de 457
AC a 1844 AD. Milhares de pessoas sofreram uma grande decepção, quando os
relógios assinalaram meia noite do dia 22 de outubro de 1844. Jesus não viera
como havia sido largamente pregado por aquele líder e seus seguidores. Como
resultado, muitos se afastaram de Deus, perderam seus bens materiais,
enfrentaram graves crises familiares e financeiras.
A pessoa que encabeçou esse movimento cometeu um gravíssimo erro ao marcar data
para a volta do Messias, isto porque o Senhor Jesus havia dito, com relação a
Sua segunda vinda, que “daquele dia e hora, porém ninguém sabe, nem os anjos do
céu, nem o Filho, senão só o Pai.” Mateus 24:36.
Para tentar “consertar” o erro, um grupo continuou estudando as profecias de
Daniel. Um daqueles homens ao passar por uma plantação de milho, diz que viu
Jesus entrar no Lugar Santíssimo do Santuário celestial em 22 de outubro de
1844.
Para aquele grupo essa “visão” trouxe novo alento. Segundo eles, as conclusões
tomadas estavam certas quanto ao tempo, porém erradas quanto ao local. As
palavras de Daniel 8:14: “…até duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o
santuário será purificado”, foram então entendidas e interpretadas por eles
como sendo a purificação do santuário celestial. Os seguidores do fazendeiro
americano até antes do desapontamento ensinavam que esta purificação referia-se
ao planeta Terra. Posteriormente eles concluíram que em 22 de outubro de 1844
teve início no santuário celestial o “Juízo Investigativo”, também denominado
por eles como “Dia da Expiação”.
A partir daí, esse novo grupo, remanescente do fracassado movimento que marcou
data da segunda vinda de Jesus, com base nas conclusões de Daniel 8:14, prega a
todo o mundo que a expiação não foi completada por Cristo no madeiro. Para eles
a fase final da expiação teve seu início em 22 de outubro de 1844 e será
concluída um pouco antes da segunda vinda de Jesus.
O presente estudo tem como objetivo esclarecer o verdadeiro significado de
Daniel 8:14. Como a expiação se completou na morte de Jesus, não faz sentido
Ele continuar realizando a partir de 1844 uma expiação no santuário celestial
(Ver a primeira parte desta série de estudos – “As funções dos dois bodes no
processo expiatório”).
A profecia de Daniel 8, embora clara e bem explicada pelo anjo Gabriel,
resultou em divergências teológicas sobre o seu significado. Uma pergunta
merece destaque: Qual o verdadeiro significado de Daniel 8:14 que diz: …até
duas mil e trezentas tardes e manhãs; então o santuário será purificado.”?
Muitos fatos históricos importantes considerados esclarecedores sobre o assunto
são omitidos. Inúmeras perguntas não são respondidas satisfatoriamente por
aqueles que defendem a teoria da purificação do santuário celestial a partir de
22 de outubro de 1844.
II – DOIS CHIFRES E DUAS ÉPOCAS DISTINTAS
1. Quais são as diferenças entre o chifre pequeno de Daniel 7 e de Daniel 8?
Inicialmente precisamos provar que a ponta pequena de Daniel 7 não é a mesma de
Daniel 8. Analisemos a seguir estas questões:
a) O chifre pequeno de Daniel 7 que guerreou contra os santos– Este pequeno
chifre saiu do quarto animal, de aspecto terrível e espantoso, animal este
representado pelo Império Romano. Em outras palavras, ele está associado à
besta que representa o quarto império, pois surgiu diretamente da cabeça da
besta. Ele apareceu em meio aos 10 chifres até então existentes, os quais
representam os fragmentos do potente reino, cuja divisão ocorreu depois de 476
AD. O detalhe importante é que ele apareceu depois da divisão do império
romano. Nesta visão o chifre pequeno é representado pelo poder religioso
apóstata, o qual passou a dirigir a perseguição aos santos do Altíssimo durante
os 1260 anos, isto é, de 538 AD até 1798 AD. Esta interpretação está em
conformidade com a Palavra de Deus:
“Depois disto, eu continuava olhando, em visões noturnas, e eis aqui o quarto
animal, terrível e espantoso, e muito forte, o qual tinha grandes dentes de
ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era
diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres.
Eu considerava os chifres, e eis que entre eles subiu outro chifre, pequeno,
diante do qual três dos primeiros chifres foram arrancados; e eis que neste
chifre havia olhos, como os de homem, uma boca que falava grandes coisas.”
Daniel 7:7-8.
“Quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino se levantarão dez reis; e depois
deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três
reis. Proferirá palavras contra o Altíssimo, e consumirá os santos do
Altíssimo; cuidará em mudar os tempos e a lei; os santos lhe serão entregues na
mão por um tempo, e tempos, e metade de um tempo.” Daniel 7:24-25.
b) O chifre pequeno de Daniel 8 que pisoteou o Santuário – Quanto ao chifre
pequeno de Daniel 8, este não sai deste animal terrível e espantoso,
representado pelo Império Romano. A Bíblia nos informa que este pequeno chifre
sai de um BODE, representado pelo GRÉCIA. Inicialmente a Palavra de Deus diz
que o bode tinha um chifre notável entre os olhos. Este chifre foi quebrado e
em seu lugar nasceram outros quatro chifres. De um destes quatro chifres saiu
um chifre pequeno. Eis a confirmação bíblica:
“E, estando eu considerando, eis que um bode vinha do ocidente sobre a face de
toda a terra, mas sem tocar no chão; e aquele bode tinha um chifre notável
entre os olhos. …O bode, pois, se engrandeceu sobremaneira; e estando ele
forte, aquele grande chifre foi quebrado, e no seu lugar outros quatro também
notáveis nasceram para os quatro ventos do céu. Ainda de um deles saiu um
chifre pequeno, o qual cresceu muito para o sul, e para o oriente, e para a
terra formosa.” Daniel 8:5,8-9.
Observem agora a interpretação do texto acima feita pelo anjo Gabriel:
“Mas o bode peludo é o rei da Grécia; e o grande chifre que tinha entre os
olhos é o primeiro rei. O ter sido quebrado, levantando-se quatro em lugar dele,
significa que quatro reinos se levantarão da mesma nação, porém não com a força
dele. Mas no fim do reinado deles, quando os transgressores tiverem chegado ao
cúmulo, levantar-se-á um rei, feroz de semblante e que entende enigmas.”
Daniel:8:21-23.
2. Quais são as principais diferenças desses dois chifres, quanto à origem e a
atuação geográfica deles?
As diferenças são enormes com relação à origem dos dois chifres e
principalmente quanto à sua atuação geográfica:
a) A Bíblia nos relata que o bode peludo é a GRÉCIA. Este animal tinha um
chifre grande entre os olhos e é o primeiro rei. Como sabemos pela história,
Grécia foi comandada por Alexandre, o Grande. Depois de sua morte prematura, o
império grego dividiu-se em quatro impérios, os quais se espalharam ao norte,
sul, leste e oeste. As profecias cumpriram-se integralmente:
“…levantando-se quatro em lugar dele, significa que quatro reinos se levantarão
da mesma nação, …” Daniel 8:22.
As quatro divisões do império grego foram lideradas por: Lisímaco, Cassandro,
Ptolomeu e Selêuco.
b) A Palavra de Deus nos informa que o chifre pequeno de Daniel 8 surgiria de
uma das divisões do império grego, ao fim do reinado destes:
“Mas, no fim do reinado deles, quando os transgressores tiverem chegado ao
cúmulo, levantar-se-á um rei, feroz de semblante e que entende enigmas.” Daniel
8:23.
A passagem bíblica refere-se aos últimos tempos das quatro divisões do império
grego, justo antes de serem conquistadas por Roma. O Império Grego dividiu-se
em quatro após a batalha de Ipso no ano 301 AC. A queda destas divisões ocorreu
na seguinte seqüência: O reino da Macedônia caiu no ano 168 AC, o de Cassandro
no ano 146 AC, o dos Selêucidas no ano 65 AC e do Ptolomeu no ano 30 AC.
Considerando que o reino quádruplo deixou de existir quando caiu a Macedônia no
ano 168 AC, a profecia requer que o chifre pequeno apareça pouco antes desse
ano. Segundo a história e de acordo com o entendimento dos teólogos, o império
grego dominou o mundo de 331 AC a 168 AC. Como cumprimento dessa profecia, (…no
fim do reinado deles- ano 168 AC), de 175 AC até 164 AC, levantou-se um rei
feroz e sanguinário: Antíoco Epifânio IV da divisão dos Selêucidas.
c) O chifre pequeno de Daniel 8 começou sua obra muito antes de Roma ter algum
contato com os judeus. O primeiro contato que Roma teve com os judeus foi em
161 AC. Desde então Roma não interferiu nos serviços do santuário dos judeus. A
prova é que quando Jesus esteve entre nós, eram os romanos que reinavam sobre
Jerusalém e arredores. Mas os serviços do santuário eram exercidos livremente,
sem nenhuma restrição. A destruição de Jerusalém ocorreu somente no ano 70 AD.
d) O chifre pequeno de Daniel 8 não podia ser o mesmo chifre pequeno de Daniel
7, porque Roma não se originou de uma das divisões do império grego. Roma
surgiu na Itália e foi fundada no ano de 750 AC e se tornou República em 501
AC. Dominou o mundo de 168 AC até 476 AD. É enganosa a interpretação de muitos
teólogos, ao afirmarem que Roma surgiu de uma das divisões da Grécia.
Para esclarecer melhor o assunto, apresentamos abaixo as diferenças entre o
chifre pequeno de Daniel 7 e o chifre pequeno de Daniel 8:
Com relação ao chifre pequeno de Daniel 7:
a) Está associado a uma besta que representa o quarto império – Roma. Daniel
7:7.
b) Surge diretamente da cabeça da besta. Daniel 7:8.
c) Aparece entre os 10 chifres já existentes, os quais representam os
fragmentos da divisão do império romano. Portanto, aparece depois da divisão do
império romano.
d) Arranca 3 chifres durante o seu surgimento. Daniel 7:8.
e) Seu campo de influência é a totalidade do quarto império, pois surge da
cabeça da besta e se converte em um chifre dominante entre os outros dez
chifres. Daniel 7:20.
Com relação ao chifre pequeno de Daniel 8:
a) Está associado a uma besta que representa o terceiro império – Grécia.
Daniel 8:8, 9 e 21.
b) Surge de um chifre já existente. Daniel 8:8 e 9.
c) Aparece em um dos 4 chifres da cabeça do bode. Daniel 8:9.
d) Nenhum chifre é arrancado durante seu surgimento.
e) Pertence apenas a uma das 4 divisões do poder do bode – Grécia. Sua atuação
se restringe à Palestina. Daniel 8:9.
As diferentes mensagens de Daniel 7 e Daniel 8:
a) Em Daniel 7, as potências mundiais são representadas por bestas imundas.
Exemplo: Leão, Urso, Leopardo e o animal terrível e espantoso. Em Daniel 8, as
potências mundiais são representadas por animais de sacrifício do santuário
terrestre. Exemplo: Cordeiro e Bode.
b) O capítulo de Daniel 7 foi escrito em aramaico, um idioma gentio. Isto
parece indicar que foi escrito para ser lido pelo mundo gentio. O capítulo de
Daniel 8 foi escrito em hebraico. Isto parece indicar que foi escrito para ser
lido pelos judeus.
c) Em Daniel 7, a ênfase profética é dirigida ao mundo inteiro. Em Daniel 8, a
ênfase é dirigida aos serviços do santuário judaico.
III – PROFANAÇÃO DO SANTUÁRIO CELESTIAL?
1. É correto afirmar que o santuário celestial foi agredido e profanado durante
2300 tardes e manhãs pelo império romano ou pelo poder religioso apóstata?
A questão da profanação do santuário celestial, ensinada pelos defensores da
doutrina de uma purificação do santuário celestial, com duração de 2300 anos,
contados desde 457 AC até 1844 AD, acaba se transformando para seus seguidores
em um grande dilema.
Para esses sinceros cristãos a doutrina da purificação do santuário celestial a
partir de 1844 é fundamental. Eles acreditam que o chifre pequeno de Daniel 7 é
o mesmo de Daniel 8. Crêem também que o santuário profanado pelo chifre pequeno
registrado em Daniel 8 é o santuário celestial. Esta profanação, segundo eles,
teve seu início em 457 AC e seu término em 1844 AD, portanto: 2300 anos. De
acordo com essa doutrina, a partir de 1844 o santuário celestial passaria a ser
purificado.
Segundo eles, o chifre pequeno de Daniel 8 pisoteou o santuário durante este
período (457 AC a 1844 AD). Como é possível enquadrar o poder religioso
apóstata e o império romano neste período de anos? Eis algumas questões a serem
respondidas:
a) Como poderia o poder religioso apóstata, equivocadamente interpretado como
sendo o chifre pequeno de Daniel 8, haver começado sua obra de profanação do
santuário celestial em 457 AC, se ele teve seus poderes reconhecidos apenas em
533 AD, através o Edito de Justiniano?
b) A história nos confirma que o poder religioso apóstata efetivamente iniciou
sua ofensiva contra o povo de Deus a partir de 538 AD, depois da fragmentação
do Império Romano em 476 AD. Como poderia ele ter atuado em 457 AC, quase 1000
anos antes de ele aparecer?
c) Em Daniel 7:7 Roma pagã é descrita como sendo um animal terrível e
espantoso:
“Depois, disto, eu continuava olhando, em visões noturnas, e eis aqui o quarto
animal, terrível e espantoso e muito forte, o qual tinha grandes dentes de
ferro; ele devorava e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era
diferente de todos os animais que apareceram antes dele, e tinha dez chifres.”
No entanto uma outra ala dos defensores da doutrina da purificação do santuário
celestial a partir de 1844 afirmam que o chifre pequeno de Daniel 8 também
representa Roma Pagã. Inclusive alegam que esse chifre nasceu do vento. Há
nessa teoria uma enorme incoerência. Como poderia o animal terrível e espantoso
de Daniel 7:7 passar a transformar-se num pequeno chifre surgido do vento em
Daniel 8:9? O que justifica tamanha transformação?
d) Os defensores da doutrina da purificação do santuário celestial a partir de
1844 afirmam que o santuário foi profanado pelo chifre pequeno em razão das
missas, a intercessão através dos santos, perdão dos pecados por parte dos
sacerdotes, etc. Com base nestes argumentos, perguntamos: Esse poder religioso
apóstata deixou de realizar suas práticas pagãs a partir de 1844? Não vamos
esquecer da pergunta formulada em Daniel 8:13: “Até quando?”
e) Os cristãos que defendem a purificação do santuário a partir de 1844
defendem-se argumentando o seguinte: O Senhor Jesus previu este acontecimento
em Mateus 24:15:
“Quando pois virdes que a abominação da desolação de que falou o profeta
Daniel, está no lugar santo: quem lê, atenda.”
Seguem ligando outras passagens bíblicas, tais como: Daniel 8:13, 9:27 e 12:11.
Eles concluem dizendo que todas estas passagens referem-se à destruição do
templo de Jerusalém no ano 70 AD.
Com este argumento tentam excluir Antíoco Epifânio IV. O argumento parece muito
lógico. Segundo eles, como poderia Antíoco Epifânio IV ter provocado a
abominação desoladora ao santuário terrestre, se ele morreu antes de Jesus ter
proferido a profecia encontrada em Mateus 24:15, referente à destruição do
templo de Jerusalém?
A resposta de Deus está nos detalhes. O acontecimento predito pelo Senhor Jesus
em Mateus 24:15 e encontrado em Daniel 9:27, refere-se realmente à destruição
de Jerusalém e seu templo no ano 70 AD. O termo usado nestas passagens bíblicas
é: DESOLAÇÃO assoladora. Em outras palavras esse termo significa: DESTRUIÇÃO
assoladora. No entanto, em Daniel 8:13, a expressão usada pelo anjo é outra:
“TRANSGRESSÃO assoladora”. (Conforme a versão revisada da tradução de João
Ferreira de Almeida e de acordo com os melhores textos em hebraico e grego – 11a.
impressão). A ênfase de Daniel 8:13 é a transgressão ou profanação praticada ao
santuário terrestre por Antíoco Epifânio IV, no final do Império Grego, em 168
AC e posteriormente purificado em 165 AC por Judas Macabeus. A destruição ou
desolação assoladora, no entanto, ocorreu apenas em 70 AD pelo exército romano.
Vale lembrar que não foi o exército romano que fez cessar o sacrifício contínuo
e sim, foi o Senhor Jesus Cristo, no momento da Sua morte, pois Ele era o
verdadeiro Cordeiro de Deus. Com a destruição do templo judaico no ano 70 AD,
pelos romanos, todos os sacrifícios contínuos ali realizados até aquela data já
não tinham mais validade.
2. O que tem a ver a profanação e conseqüente purificação do Santuário de
Daniel 8:14, com os serviços do dia da expiação (dia 10 do sétimo mês) de
Levítico 16?
Os defensores da doutrina da purificação do santuário a partir de 1844 associam
a purificação do santuário de Daniel 8 com o processo de purificação do
santuário realizado no dia da expiação, conforme encontramos em Levítico 16.
Podemos associar estes dois fatos? Exatamente aqui é que eles cometem o maior e
brutal equívoco. Vamos aos detalhes:
a) Daniel 8:9-12 fala-nos que parte do exército “foi lançado por terra e
pisado” e o santuário teve seus serviços interrompidos. Diz ainda que “o
contínuo sacrifício foi tirado” por um poder assolador representado na profecia
pela ponta pequena. Efetivamente ocorreu uma agressão e ao mesmo tempo uma
profanação ao santuário por parte de um povo pagão.
Convém lembrar que o “contínuo sacrifício” não foi tirado pelo império romano e
nem pelo poder apóstata Ele foi extinto com a morte de Jesus: “…na metade da
semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; …” Daniel 9:27.
b) Com relação à purificação do dia 10 do sétimo mês, conforme Levítico 16,
chamado como dia da Expiação, referia-se exclusivamente aos pecados do povo de
Israel, acumulados durante o ano.
Todas as atividades realizadas no santuário naquele dia transcorriam de forma
solene e muito tranqüila. Não há como associar a purificação do santuário de
Daniel 8:14 com a purificação do santuário de Levítico 16.
O dia da expiação tinha a finalidade exclusiva de purificar e remover os
pecados confessados pelo povo de Deus do santuário. Já a purificação do
santuário em Daniel 8 era resultado de uma agressão e profanação realizada pelo
chifre pequeno, que saiu de uma das quatro pontas da cabeça do bode. Portanto,
as assolações registradas em Daniel 8:9-12 não podem ser relacionadas com os
serviços do dia da expiação.
3. A purificação do santuário terrestre sempre ocorreu no dia da expiação (dia
10 do sétimo mês)?
Nem sempre a purificação do santuário está associada ao dia da expiação.
Podemos acrescentar outras datas em que o santuário foi purificado:
1) Ezequiel 45:18 fala-nos de uma purificação do santuário, no primeiro dia do
primeiro mês. Esta, por sua vez, não está relacionada com o dia da expiação,
pois as datas são mui distantes. Este cerimonial de purificação está
relacionado com a data do estabelecimento do tabernáculo, conforme registrado
em Êxodo 40:17.
2) Em II Crônicas 29:5, 15, 16 e 18 temos uma purificação também fora do dia da
expiação, em razão de um período de negligência dos levitas. Esta foi promovida
pelo rei Ezequias.
Querer relacionar a purificação do santuário sempre com o dia da expiação, não
passa de uma manipulação equivocada por muitos sinceros cristãos.
IV – ANUNCIADO O TÉRMINO DO EXÍLIO
1. Daniel 8 e Daniel 9 tratam do mesmo assunto?
Muitos sinceros cristãos tomam como ponto de partida para a contagem dos 2300
anos, a ordem de Artaxerxes para restauração e edificação de Jerusalém. Essa
ordem entrou em vigor em 457 AC.
É muito estranha a idéia desses cristãos de iniciar a contagem do período
profético das 2300 tardes e manhãs a partir de 457 AC, ainda durante o domínio
da Medo Pérsia. Para qualquer pesquisador bíblico essa teoria é totalmente
contraditória em relação à Palavra de Deus.
Os defensores da doutrina da purificação do santuário a partir de 1844 tentam
ligar o capítulo 8 com o capítulo 9 de Daniel. Afirmam que o anjo Gabriel foi
novamente enviado a Daniel, 13 anos depois, para explicar-lhe a visão que ele
recebera conforme relatado em Daniel 8, especificamente sobre a questão das
2300 tardes e manhãs. Teria o anjo Gabriel desrespeitado a ordem de esclarecer
a Daniel a visão dada no capítulo 8? Baseiam-se na passagem de Daniel. 9:23:
“No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, pois
és muito amado; considera, pois, a palavra e entende a visão.”
Com relação a este texto muitas questões precisam ser esclarecidas:
a) A preocupação de Daniel, no capítulo 9, nada tem a ver com a questão das
2300 tardes e manhãs do capítulo 8. No capítulo 9 o centro da atenção de Daniel
era com a profecia relacionada com o cativeiro de 70 anos dos judeus. Em Daniel
9:1-2 lemos:
“No ano primeiro de Dario, filho de Assuero, da linhagem dos medos, o qual foi
constituído rei sobre o reino dos caldeus, no ano primeiro do seu reinado, eu,
Daniel, entendi pelos livros que o número de anos, de que falara o Senhor ao
profeta Jeremias, que haviam de durar as desolações de Jerusalém, era de
setenta anos.”
Faltavam apenas 2 anos para o término do exílio do povo de Israel em Babilônia.
Portanto, a grande preocupação de Daniel no capítulo 9 não era com relação à
visão das 2300 tardes e manhãs, mas com o futuro do povo de Israel. Logo em
seguida Daniel fez uma oração. Durante a oração, percebemos nitidamente que sua
atenção estava voltada não à questão das 2300 tardes e manhãs, mas à profecia
do profeta Jeremias, que dizia o seguinte:
“Porque assim diz o Senhor: Certamente que passados setenta anos em Babilônia,
Eu vos visitarei, e cumprirei sobre vós a Minha boa palavra, tornando a
trazer-vos a este lugar. … Então Me invocareis, e ireis e orareis a Mim, e Eu
vos ouvirei. Buscar-Me-eis, e Me achareis, quando Me buscardes de todo o vosso
coração. E serei achado de vós, diz o Senhor, e farei voltar os vossos cativos,
e congregar-vos-ei de todas as nações; e de todos os lugares para onde vos
lancei, diz o Senhor; e tornarei a trazer-vos ao lugar de onde vos
transportei.” Jeremias 29:10, 12-14.
b) O texto de Daniel 9:23 não pode ser extraído do seu contexto. Lembrem-se
sempre: “Um texto fora do seu contexto vira pretexto”. O fato é que, enquanto
Daniel ainda estava orando, o anjo Gabriel veio trazer as respostas às suas
súplicas, as quais se relacionavam aos 70 anos de exílio do povo de Israel.
Para isso, basta analisar o conteúdo das súplicas de Daniel 9:4-20.
O anjo dá a Daniel boas notícias. O seu povo poderia voltar, restaurar e
edificar Jerusalém. Seria o cumprimento de Suas promessas. Deus fixou um prazo
de setenta semanas (490 anos) para o povo judeu, contado desde a ordem para
restaurar e para edificar Jerusalém (457 AC – Decreto de Artaxerxes). Conforme
Daniel 9:25, a cidade de Jerusalém seria reedificada em tempos angustiosos. É
evidente que o anjo Gabriel nada falou sobre as 2300 tardes e manhãs, pois em
Daniel 8:26 o mesmo anjo pediu à Daniel que cerrasse (guardasse) a visão,
porque se referia a dias mui distantes. Daniel não deveria se preocupar quanto
a isto. De Daniel 8:26 a Daniel 9:23 passaram-se 13 anos. A visão relativa às
2300 tardes e manhãs continuaram cerradas (guardadas) conforme o pedido do anjo
Gabriel. A verdade é que não era esta a preocupação de Daniel naquele momento.
c) A visão apresentada ao profeta Daniel no capítulo 8, foi muito bem explicada
pelo anjo Gabriel e totalmente compreendida pelo profeta Daniel. Muitos tentam
desqualificar o trabalho do anjo Gabriel e a sabedoria de Daniel. Para entender
melhor, quais foram as qualificações do profeta Daniel? A Bíblia diz que
“quanto a estes quatro jovens, Deus lhes deu o conhecimento e a inteligência em
todas as letras e em toda a sabedoria; e Daniel era entendido em todas as visões
e todos os sonhos.” Daniel 1:17. De acordo com este texto, o profeta Daniel era
inteligente em toda a sabedoria e entendido em todas as “visões”. É possível,
com base neste texto, colocar dúvidas sobre essas qualidades de Daniel? Por
outro lado, temos a atuação do poderoso anjo Gabriel, enviado por Deus. A ordem
que o anjo Gabriel recebeu foi a seguinte: “ Gabriel, faze que este homem
entenda a visão.” Daniel 8:16. Se o anjo Gabriel não fez o profeta Daniel
entender a visão das 2300 tardes e manhãs, temos que admitir que o poderoso
anjo Gabriel foi um incompetente e o profeta Daniel um homem sem entendimento.
É muito grave colocar dúvidas com relação ao trabalho realizado pelo anjo
Gabriel e a capacidade intelectual do profeta Daniel. Em Daniel 8:27 diz que o
profeta Daniel ficou espantado acerca da visão, a ponto de desmaiar e ficar
enfermo alguns dias, pois não havia quem a entendesse. Não que o profeta Daniel
não tivesse entendido, mas que não havia entre os que estavam com ele quem
entendesse essa visão.
d) Decorridos 13 anos, o anjo Gabriel volta para dar uma resposta às súplicas
de Daniel, quanto ao futuro do povo de Israel. O anjo Gabriel disse o seguinte:
“Daniel, vim agora para fazer-te sábio e entendido. No princípio das tuas
súplicas, saiu a ordem, e eu vim para to declarar, pois és muito amado,
considera, pois, a palavra e entende a visão.” Daniel 9:22-23. Essa ordem agora
foi para que o anjo Gabriel apresentasse a visão ao profeta Daniel sobre as 70
semanas proféticas decretadas (determinadas; marcadas de antemão; decididas),
esmiuçando em detalhes o futuro reservado ao povo de Israel, descrita em Daniel
9:24-27. Nada a ver com a visão das 2300 tardes e manhãs.
V – O CHIFRE PEQUENO E O SANTUÁRIO TERRESTRE
1.Quem estava sendo representado pelo chifre pequeno de Daniel 8?
Malaquias foi o último livro da Bíblia, escrito cerca de 430 AC. Não houve
registros históricos por parte de profetas entre Malaquias (Velho Testamento) e
Mateus (Novo Testamento).
A história registra muitos fatos ocorridos com o povo judeu durante este
período. É muito importante lembrarmos que, sempre que tragédias de relevância
ocorriam com o povo de Israel, Deus revelava com antecedência esses
acontecimentos através os Seus profetas. É o que diz a Palavra de Deus:
“Certamente o Senhor Deus não fará coisa alguma sem ter revelado o Seu segredo
aos Seus servos, os profetas.” Amós 3:7.
Será que a profanação ocorrida ao Santuário e o terrível massacre de dezenas de
milhares de judeus, ainda durante o Império Grego, não foram previstos e anunciados
por Deus ao Seu povo? Teria Deus falhado? Será que a profecia de Daniel 8 não
foi o aviso de Deus à essa tragédia que se abateu sobre Seu Santuário terrestre
e Seu povo entre 168 AC e 165 AC? Foi um período negro para o povo judaico.
Como o Senhor Deus não levantou profetas para registrar os acontecimentos
ocorridos entre o último livro do Velho Testamento (Malaquias) e o primeiro
livro do Novo Testamento (Mateus), necessariamente temos que buscar dados
através o trabalho dos historiadores. O mais confiável entre todos os demais
destacamos: FLÁVIO JOSEFO. Ele era um historiador judeu.
Pelo que nós já vimos, o chifre pequeno de Daniel 7 é um poder religioso
apóstata que surgiu depois da extinção do império romano em 476 AD. Conforme
Daniel 7:24-25, houve então a divisão do império romano. O império romano
fragmentou-se em 10 reinos, entre os quais se levantaria um, diferente dos
outros dez, o qual proferiria palavras contra o Altíssimo, consumiria os santos
do Altíssimo, cuidaria em mudar os tempos e a lei e os santos lhe seriam
entregues na mão por um tempo, e tempos e metade de um tempo. De fato esta
profecia cumpriu-se em 538 AD a 1798 AD. É a profecia dos 1260 anos.
Mas quem é o rei, feroz de semblante, representado pelo chifre pequeno de
Daniel 8? Há uma opinião quase unânime entre os eruditos bíblicos judeus e de
muitos cristãos, de que o chifre pequeno de Daniel 8 é ANTÍOCO EPIFÂNIO IV.
Tudo se ajusta perfeitamente ao período do reinado de Antíoco Epifânio IV. O
mesmo não se pode dizer de Roma Pagã e nem da Roma Cristã.
2. O que significavam as 2300 tardes e manhãs?
O período de profanação e purificação do santuário terrestre referidos em
Daniel 8 cumpriram-se literalmente em 1150 dias, no final do império grego..
Daniel 8:14 não fala em 2300 dias, mas em 2300 tardes e manhãs. Todo o capítulo
8 de Daniel está relacionado com o santuário terrestre. Como vimos, os animais
aí mencionados tem relação com as atividades do santuário. Não se pode dizer o
mesmo dos animais de Daniel 7. Estas 2300 tardes e manhãs, pelo contexto, estão
relacionados com os sacrifícios diários do templo. Qual foi o entendimento de
Daniel em relação ao holocausto contínuo mencionado em Daniel 8:11-13?
“Isto, pois, é o que oferecerás sobre o altar; dois cordeiros de um ano cada
dia continuamente. Um cordeiro oferecerás pela manhã e o outro cordeiro
oferecerás à tardinha;…E o outro cordeiro oferecerás à tardinha, e com ele
farás oferta de cereais como com a oferta da manhã, e conforme a sua oferta de
libação, por cheiro suave; oferta queimada é ao Senhor. Este será o HOLOCAUSTO
CONTÍNUO por vossas gerações, à porta da tenda da revelação, perante o Senhor,
onde vos encontrarei, para falar contigo ali.” Êxodo 29:38-42.
O que Daniel tinha na cabeça eram 2300 sacrifícios (um à tardinha e o outro de
manhã) e não 2300 anos como querem alguns. No Santuário eram realizados 2
(dois) sacrifícios diários. Para sabermos a quantidade de dias, basta
dividirmos 2300 sacrifícios por 2, cujo resultado dá: 1.150 dias literais. Não
seria correto afirmar que 2300 tardes e manhãs são exatamente 1.150 dias? Como
que uma tarde + uma manhã de sacrifícios podem ser igual a 01 (um) ano
profético?
Causa muita estranheza o fato de usar a data de 457 AC, que é o início da
contagem das 70 semanas (Daniel 9:24-27), com as 2300 tardes e manhãs (Daniel
8:14), isto porque, uma coisa não tem nada a ver com a outra.
A história nos confirma que o santuário terrestre foi agredido e profanado por
Antíoco Epifânio IV, no final do Império Grego, de 168 a 165 AC e purificado
por Judas Macabeus. Vários historiadores registraram em detalhes a invasão e
profanação ao santuário judaico por Antíoco Epifânio IV. Destacamos aqui dois
dos mais confiáveis, não só por parte dos judeus, mas também pela comunidade
teológica internacional: Flávio Josefo e Judas Macabeus. Embora os livros
escritos por Judas Macabeus (I Macabeus e II Macabeus) sejam apócrifos, isto é,
não aceitos como inspirados, os historiadores, no entanto, os têm usado como
documentos de grande valia para resgatar a verdadeira história do povo judeu.
Como os escritos de Judas Macabeus não são aceitos por muitos cristãos, optamos
em priorizar textos escritos pelo historiador Flávio Josefo, do seu livro
“História dos Hebreus”. Tudo o que Flávio Josefo escreveu sobre o massacre
liderado por Antíoco Epiânio IV, é confirmado por Judas Macabeus em seus dois
livros I Macabeus e II Macabeus.
Flávio Josefo relata o seguinte sobre a ponta pequena e da profanação do templo
judaico pelas mãos de Antíoco Epifânio IV:
“…como o profeta Daniel tinha predito,… dizendo clara e distintamente que o
templo seria profanado pelos macedônios.” História dos Hebreus, Ed. CPAD, p.
291.
Como Flávio Josefo viveu na época dos apóstolos, é obvio que ele sabia bem
melhor do que nós o que estava afirmando. Talvez ele tivesse em mãos evidências
que hoje não existam mais com relação a Antíoco Epifânio IV, pois ele faz uma
afirmação muito convicta. Um recente escritor de nome C. Mervyn Maxwell, autor
do livro “Uma Nova Era Segundo as Profecias de Daniel”, p. 293, impresso pela
Casa Publicadora Brasileira, escreveu o seguinte: “Josefo, o famoso historiador
judeu, sustentava esse ponto de vista no primeiro século da era cristã. É
possível que os discípulos de Cristo também o tenham feito.”
É interessante que este autor sustenta a idéia de que até mesmo os discípulos
acreditavam nesta versão. É bom lembrar que após a morte de Alexandre, o
Grande, em 323 AC, o império greco-macedônico dividiu-se, passando a ser
liderado por 4 generais, a saber:
Cassandro- ficou com a Macedônia Lisímaco – ficou com a Ásia Menor e a Trácia
Seleuco – ficou com o norte da Síria, Mesopotânia e Oriente (desta dinastia
saiu Antíoco Epifânio) Ptolomeu – ficou com o Egito, a Palestina e sul da
Síria.
3. Como se prova que as 2300 tardes de manhãs (ou 1150 dias literais) de
contaminação do Santuário terrestre de Jerusalém, cumpriram-se em Antíoco
Epifanio IV?
Iremos provar agora, como Antíoco Epifânio IV se ajusta perfeitamente à
profecia de Daniel 8:
a) Daniel 8:9 – Ainda de um deles (de um dos 4 chifres) saiu um chifre pequeno,
o qual cresceu muito para o sul, e para o oriente, e para a terra formosa.”
A história nos confirma que Antíoco Epifânio IV foi o oitavo governador da
dinastia dos Selêucidas. Saiu portanto de um dos quatro chifres do bode peludo
(Grécia). Ele reinou de 175 a 164 AC. A Bíblia diz que esse rei cresceria muito
para o sul.
Observem o que diz o historiador Flávio Josefo:
“A profunda paz que Antíoco gozava e o desprezo que ele tinha pela pouca idade
dos filhos de Ptolomeu, que os tornava incapaz de tomar conhecimento das
coisas, fê-lo conceber a idéia de conquistar o Egito. Declarou guerra, e entrou
no país com um poderoso exército; foi diretamente a Pelusa, enganou o rei
Filopator, tomou Mênfiz e marchou para Alexandria, para se apoderar da cidade
da pessoa do rei.” História dos Hebreus, p. 286.
Geograficamente Egito situava-se ao sul, exatamente como previu o profeta
Daniel. Como a dinastia dos Selêucidas já tinha o domínio do oriente, desde a
divisão do império greco-macedônico, conforme previsto pela profecia bíblica,
as Sagradas Escrituras dizem ainda que esse rei cresceria para a “terra
formosa” (Jerusalém). Teria Antíoco Epifânio IV prosperado no intento contra
Jerusalém? Teria ele profanado o templo? Para desespero dos que defendem a
idéia da purificação do santuário celestial a partir de 1844, a resposta é:
SIM. Esse homem fez coisas terríveis contra os judeus. A esse respeito Flávio
Josefo escreveu o seguinte:
“No vigésimo quinto dia do mês, que os hebreus chamam de Quisleu e os
macedônios, Apeleu, na centésima qüinquagésima terceira Olimpíada, ele (Antíoco
Epifânio IV) voltou a Jerusalém e não perdoou nem mesmo aos que o receberam na
esperança de que ele não faria nenhum ato de hostilidade. Sua insaciável
avareza fez com que ele não temesse violar também a sua fé para despojar o
templo de tantas riquezas de que sabia estava ele cheio. Tomou os vasos
consagrados a Deus, os candelabros de ouro, a mesa sobre a qual se punham os
pães da proposição e os turíbulos. Levou mesmo as tapeçarias de escarlate e os
linhos finos, pilhou os tesouros, que tinham ficado escondidos por muito tempo;
afinal, nada lá deixou. E para cúmulo de maldade proibiu aos judeus de oferecer
a Deus os sacrifícios ordinários, segundo sua lei a isso os obrigava. Depois de
ter assim saqueado toda a cidade, mandou matar uma parte dos habitantes e fez
levar dez mil escravos com suas mulheres e filhos, mandou queimar os mais belos
edifícios, destruiu as muralhas, e construiu, na cidade baixa, uma fortaleza
com grandes torres, que dominavam o templo e lá colocou uma guarnição de
macedônios, entre os quais estavam vários judeus maus e tão ímpios, que não
havia males que eles não infligissem aos habitantes. Mandou também construir um
altar no templo e lá fez sacrificar porcos, o que era uma das coisas mais
contrárias à nossa religião. Obrigou então os judeus a renunciarem ao culto do
verdadeiro Deus, para adorar seus ídolos, ordenaram que se lhes construíssem
templos em todas as cidades e determinou que não se passasse um dia, que lá não
se imolassem porcos. Proibiu também aos judeus, sob penas graves, que
circuncidassem seus filhos e nomeou fiscais para vigiarem se eles observavam
suas determinações, as leis que ele impunha, e obrigá-los a isso, se
recusassem. A maior parte do povo obedeceu-lhe, fê-lo voluntariamente ou de
medo; mas essas ameaças não puderam impedir aos que tinham virtude e
generosidade, de observar as leis de seus pais; o cruel príncipe os fazia
morrer, por vários tormentos. Depois de os ter feito retalhar a golpes de
chicote, sua horrível desumanidade não se contentava de faze-los crucificar,
mas enquanto respiravam, ainda fazia enforcar e estrangular, perto deles, suas
mulheres e os filhos que tinham sido circuncidados. Mandava queimar todos os
livros das Sagradas Escrituras e não perdoava a um só de todos aqueles em cujas
casas os encontrava.” História dos Hebreus, p. 287.
O historiador Flávio Josefo menciona a data de 25 de Quisleu, como início da
oferta de sacrifícios impuros. A invasão e profanação, no entanto, ocorreu um
pouco antes, em 15 de Quisleu de 145 (Ano Selêucida que corresponde a 10 de
dezembro de 168 AC do calendário Juliano), conforme registrado pelo historiador
Judas Macabeus em I Mac. 1:37-54, com a introdução da abominação desoladora
sobre o altar dos holocaustos, ou seja, a ereção do altar do deus pagão Zeus ou
Júpiter. Em 25 de Quisleu de 148 (ano 165 AC do calendário Juliano), o templo
foi purificado e reedificado ao Senhor por Judas Macabeus, conforme I Mac.
1:54. Essa data é anualmente comemorada pelo povo judeu e é conhecida como
“Festa da Dedicação” (João 10:22).
Obs.: O livro de Macabeus está sendo mencionado neste trabalho apenas para
completar um fato histórico e não para defender uma questão teológica.
Contando o tempo desde a introdução da abominação no templo, em 15 de Quisleu
de 145 (10 de dezembro de 168 AC pelo calendário Juliano), até 25 de Quisleu de
148 (20 de dezembro de 165 AC pelo calendário Juliano), temos 3 anos e 10 dias,
ou seja, 1105 dias (365 x 3 + 10), faltando para 1150, apenas 45 dias. Segundo
a nota de rodapé da Bíblia católica – Ed. Paulinas, Pontifício Instituto
Bíblico de Roma, o dia 15 de Quisleu corresponde a 10 de dezembro de 168 AC, e
conforme Braley em “A Negleted Era”, o decreto contra a religião judaica
emitido por Antíoco Epifânio IV e descrito em I Mac. 1:41, foi enviado em 25 de
outubro de 168 AC. Ora, de 25 de outubro até 10 de dezembro, temos 45 dias.
Somando 1105 dias + 45 dias, temos um total de 1150 dias.
b) Dan. 8:10-11 – “E se engrandeceu até o exército do céu; e lançou por terra
algumas das estrelas desse exército, e as pisou. Sim, ele se engrandeceu até o
príncipe do exército; e lhe tirou o holocausto contínuo, e o lugar do seu
santuário foi deitado abaixo.”
Esta passagem bíblica não está falando de seres celestiais, porque nenhum
império, nem sequer Roma lançou por terra seres celestiais. A interpretação é
dada pela Bíblia:
Os filhos de Jacó são descritos no sonho de José como “estrelas”. Gênesis 37:9
Os governantes judeus são chamados “exércitos dos céus no alto”. Isaías 24:21 O
termo “príncipe do exército” tem o significado de cabeça, chefe, general,
administrador, etc. Neste caso seria o sumo sacerdote do templo judaico. Em
Atos 23:4-5, o apóstolo Paulo chama o Sumo Sacerdote Ananias de “príncipe”.
Quando Antíoco Epifânio IV se engrandeceu contra o príncipe do santuário, ele
literalmente fez isto contra o sumo sacerdote Onias III, ao enviá-lo ao exílio
e, mais tarde, mandou matá-lo da maneira mais cruel.
c) Dan. 8:25 – “…mas será quebrado sem intervir mão de homem.”
A história nos confirma que Antíoco Epifânio IV saiu de cena por motivo de uma
doença incurável. Uma profecia cumprida nos mínimos detalhes.
VI – UM ESCLARECIMENTO SOBRE O SIGNIFICADO DO TERMO “TEMPO DO
FIM”.
1. Não diz a Bíblia que a profecia das 2300 tardes e manhãs ocorrerá no tempo
do fim?
Muitos teólogos insistem na idéia de que a profecia de Daniel 8 terá seu clímax
no tempo do fim, ao citarem Daniel 8:17, 19 e 26. Será que o termo “tempo do
fim” nos textos mencionados não se refere ao fim do tempo destinado ao império
grego? Os mesmos segmentos religiosos que sustentam a idéia de uma purificação
do santuário celestial a partir de 1844, ensinam que o fim do império grego
deu-se em 168 AC. E essa é a mesma conclusão que se chega ao analisar Daniel
11. O referido capítulo é uma continuidade de Daniel 8, pois trata da
destruição da Medo-Pérsia pela Grécia, a divisão da Grécia em quatro e o
conflito no tempo do fim entre as duas dinastias gregas sobreviventes:
selêucidas do lado norte e ptolomeus do lado sul. Todo o contexto do capítulo
trata deste assunto. Diz que o império medo-persa será destruído pelo rei da
Grécia; o reino será dividido em quatro, ocorrerá a guerra entre o rei do sul e
o rei do norte. Favor ler Daniel 11:1-4 e 11.
2. Como os defensores da doutrina da purificação do santuário celestial
entendem a questão da luta entre o rei do norte e o rei do sul?
Os teólogos de alguns segmentos religiosos dizem que essa luta representa
simbolicamente o conflito entre o anticristo (rei do norte) e o ateísmo (rei do
sul). Eles citam Daniel 11:40 como prova desse conflito. Sustentam a idéia de
que neste texto bíblico está profetizada a queda do ateísmo (comunismo) e a
vitória do anticristo (poder religioso apóstata).
Essa teoria, no entanto, apresenta sérias falhas:
a) A verdade é que todo o capítulo 11 de Daniel trata sobre a luta entre os
selêucidas e ptolomeus (duas dinastias gregas). Nada a ver com o ateísmo e o
anticristo. O objetivo é tirar o foco dos fatos que verdadeiramente ocorreram.
Em Daniel 11:31 lemos o seguinte: “E estarão ao lado dele (aqui se entende como
rei do norte – Antíoco Epifânio IV), forças que profanarão o santuário, isto é,
a fortaleza, e tirarão o holocausto contínuo, estabelecendo a transgressão assoladora.”
Os selêucidas, no comando de Antíoco Epifânio IV, profanaram o santuário
terrestre dos judeus e tiraram temporariamente o holocausto contínuo. Não foi o
poder religioso apóstata que fez isto. Esse poder fez outras crueldades durante
o período de 538 a 1798 AD.
b) A teoria desses teólogos não se sustenta, pois não condiz com a realidade
histórica da queda do comunismo. Isto porque, o comunismo ruiu sem guerra. No
entanto a Bíblia diz que haveria um conflito militar. As expressões usadas
indicam isto claramente: “Virá como turbilhão”, “carros, cavaleiros e com
muitos navios” e “entrará nos países e os inundará”.(Daniel 11:40). Não há
registros históricos de que o poder religioso apóstata tivesse entrado na
extinta União Soviética com “carros, cavaleiros e muitos navios”. Tudo muito
estranho.
VII – UMA ANÁLISE SOBRE A QUESTÃO DO JUÍZO INVESTIGATIVO.
1. Ensina a Bíblia que os salvos irão passar pelo processo do Juízo
Investigativo a partir de 1844?
Analisando alguns dos fundamentos principais dos que defendem a purificação do
santuário celestial e conseqüente instalação do juízo investigativo a partir de
1844, concluímos que a referida doutrina não tem base bíblica. Vamos analisar
algumas importantes questões:
a) A Bíblia afirma que os salvos não passarão pelo juízo:
“Em verdade, em verdade vos digo, que quem ouve a Minha palavra, e crê nAquele
que Me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte
para a vida.” João 5:24.
É falso o ensinamento de que a partir de 22 de outubro de 1844 teve início no
santuário celestial a obra de investigação e apagamento dos pecados de todos
aqueles que professaram o nome de Cristo. É também falso o ensinamento de que a
partir daquela data está ocorrendo um cuidadoso exame dos livros de registro para
determinar quem, pelo arrependimento dos pecados e fé em Cristo, tem direito
aos benefícios de Sua expiação.
b) A Bíblia afirma que no Calvário o Messias cumpriu tudo para nos salvar. Não
fez nada pela metade. A partir do “está consumado” todos os pecados confessados
sob o velho pacto e dos que criam nEle, a partir daquele instante estavam
cancelados:
“Pois com uma só oferta tem aperfeiçoado para sempre os que estão sendo
santificados. …Este é o pacto que farei com eles depois daqueles dias, diz o
Senhor: Porei as Minhas leis em seus corações, e as escreverei em seu
entendimento; acrescenta: E não Me lembrarei mais de seus pecados e de suas
iniqüidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais oferta pelo pecado.”
Hebreus 10:14-18.
É falso o ensinamento de que a pessoa, que foi aperfeiçoada, ainda depende
deste juízo.
c) A Bíblia afirma que os conversos eram batizados e tinham seus pecados
apagados no ato:
“Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em
nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e receberei o dom do
Espírito Santo.” Atos 2:38.
É falso o ensinamento de que a pessoa só é declarada salva após o juízo
investigativo, isto é, a partir de 1844. Com base neste argumento, como ficam
os casos das pessoas que já foram declaradas salvas antes do juízo
investigativo de 1844? Alguns exemplos:
Ladrão na cruz: “E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo hoje, estarás comigo no
Paraíso.” Lucas 23:43.
Abraão, Isaque e Jacó: “Mas Eu vos digo que muitos virão do oriente e do
ocidente, e assentar-se-ão à mesa com Abraão, e Isaque, e Jacó, no reino dos
céus.” Mateus 8:11.
Moisés e Elias. Os dois foram vistos na companhia de Cristo em Seu futuro
reino, numa visão apresentada aos discípulos Pedro, Tiago e João no monte da
transfiguração. Ver Mateus 16:28 e 17:1-9.
Abel, Enoque, Noé e muitos outros, considerados os heróis da fé, conforme
Hebreus 11.
2. Segundo a Bíblia, haverá necessidade de um juízo investigativo, a partir de
1844, para identificar os salvos?
Como Deus conhece plenamente quem são os Seus, não há necessidade do juízo
investigativo:
“Todavia o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor
conhece os Seus e: Aparte-se da injustiça todo aquele que profere o nome do
Senhor.” II Timóteo 2:19.
Da mesma forma Jesus também conhece os Seus:
“Eu sou o bom Pastor; conheço as Minhas ovelhas, e elas Me conhecem.” João
10:14.
Precisa Deus levar tanto tempo para investigar a vida daqueles que Ele conhece?
Não teria o homem maior capacidade para, num simples apertar de um botão,
apresentar a ficha criminal de um acusado em questão de segundos?
VIII – CONCLUSÃO
Os assuntos abordados até aqui são de extrema importância para a nossa
salvação. Cada tema apresentado revela minúcias e provas suficientes, para que
todos tenham condições de discernir o falso do verdadeiro.
Diante de todos estes fatos, não há lógica em sustentar uma doutrina de que
haverá uma purificação do santuário celestial a partir de 1844. Eis as razões:
a) Quando Jesus morreu, o véu que fazia separação entre o lugar Santo e o
Santíssimo, no Templo, rasgou-se de alto a baixo (Mateus 27:50-51). Isto
significa que a partir de então estava aberto o caminho e todo o crente tem
acesso ao Pai, por meio de nosso Senhor Jesus.
b) Os pecados confessados e perdoados não mais estão registrados nos livros
celestiais. No momento em que aceitamos a Jesus como nosso Salvador e aceitamos
obedecer-Lhe, guardando a Lei de Deus, depois de um completo arrependimento e
uma genuína conversão, os nossos pecados são imediatamente apagados (Jeremias
31:33-34; Atos 3:19 e Miquéias 7:19). Deus diz que não mais se lembrará dos
nossos pecados quando Ele nos perdoa.
c) Tendo a expiação sido completada com a morte de Jesus, cai por terra toda
uma seqüência de fatos apresentados pelos defensores da falsa doutrina de uma
purificação do santuário celestial a partir de 1844. (ver estudos I, II)
d) Não há necessidade de uma investigação para saber se Moisés, Enoque, Davi,
Abraão, Isaque, Jacó e tantos outros farão ou não parte da primeira ressurreição.
De acordo com a Bíblia, Deus conhece os Seus (II Timóteo 2:19).
e) Jesus desde Sua ascensão encontra-Se assentado à destra de Deus, no lugar
Santíssimo ou Santo dos Santos do Santuário celestial (Hebreus 8:1; 9:12 e
10:12).
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